Arte: Virna Teixeira
Instante Em Rodopio
Das latas sem alma,
das valas sem lama
enquanto chama, cala
oh aurangustia, tão sana
Escotilhas Febris No Mar Da Pele
Desvendadas as tardes afogadas em cruz :
pisoteadas quilhas, malabares transparentes
soluções esmagadas e destroço azul-Blake
Desmembrada a cruz afogada nas tardes :
nunca mais, além do fim ou do eu sem mim
luz incinerada e resina de madeira-veneno
Yogin Crucificado
Eram as cortinas internas, flechadas
venezianas discerniam o breu do sangue
a janela, tormento de arcontes gnósticos
a vidraça cega derretia sua cera hermética
quarto-derme, quarto-comunhão, quarto-eu
O Outro Testamento Da Morte
Há um relógio para se morrer
guardado com uma chave de nuvens
taurino em segredar o número da hora
e impiedoso será ao abrir a cancela,
essa cela de fantasmas ou dálias-de-asma
que nunca saíram da alta escuridão.
Há um relógio para nele morrermos
e que não venha a chuva seduzir a terra
as águas são cósmicas, todavia, ostras tardias
e que caia toda a cal das casas caladas,
gritem as mãos perdidas antes de ceifadas,
aquelas que atravessaram a luz do inferno
no despenhadeiro sem cor da solidão.
Fernando Naporano
Fernando Naporano, Sol em Peixes, ascendente Escorpião, entre outras coisas, é músico, jornalista e professor. Escreve poesia desde a infância e tem dez livros publicados. Executou vários trabalhos em rádios e companhias discográficas. Também pilotou a cultuada banda Maria Angélica Não Mora Mais Aqui com a qual gravou três Lps. Sem raízes e cidadão do mundo viveu em Los Angeles, Lisboa, Lanzarote, Londres e Madrid.